quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Evolução Histórica dos Conceitos sobre Mente - parte II

por Ramon M. Consenza, MD, PhD
publicado em 31.12.2002 - Unicamp


Os Ventrículos e o Conceito de Mente 

Nemésio (320 D.C.), bispo de Emesia, na atual Síria, tomou as idéias de Galeno e baseou nos ventrículos as faculdades intelectuais. Em seu livro “Da Natureza do Homem”, onde ele tratava da fisiologia com base na medicina grega, consta que a alma não tem uma sede, mas as funções da mente, sim. Os ventrículos cerebrais, seriam responsáveis pelas operações mentais, desde a sensação até a memorização. O primeiro par de ventrículos seria  sede  do “senso comum”. Eles recebiam as informações vindas dos órgãos sensitivos e ali se dava a análise sensorial. As imagens formadas eram levadas ao ventrículo médio, sede da razão, do pensamento e do juízo. Só então entrava em ação o último ventrículo, sede da memória. Até a Idade Média, as figuras representando o cérebro mostram com destaque os ventrículos cerebrais.
A idéia de que espíritos circulavam pelos ventrículos, favorecida pela Igreja, foi predominante até a época do Renascimento. Em um livro do século XIII, denominado “Da Propriedade das Coisas”, uma compilação feita por Bartolomeu, o Inglês, afirma que “a cavidade anterior é macia e úmida para facilitar a associação das percepções sensoriais e a imaginação. A cavidade intermediária deve também ser quente, porque o pensamento é um processo de separação do puro do impuro, comparável à digestão e sabe-se que o calor é o principal fator na digestão. A cavidade posterior, no entanto é um local para armazenamento a frio, onde uma atmosfera seca e isenta de calor permite o armazenamento de bens. Por isso o cerebelo é mais duro, menos medular e gasoso que o resto do encéfalo”.
Leonardo da Vinci
Durante muitos séculos, portanto, falava-se em três ventrículos cerebrais, sendo os ventrículos laterais considerados em conjunto. Leonardo Da Vinci (1472-1519) que tinha o hábito da dissecação,  mostra nos seus desenhos os ventrículos laterais separados e não como um ventrículo único. Da Vinci acreditava que as sensações deveriam localizar-se no ventrículo médio (IIIo. ventrículo) porque para suas imediações cmnverge uma grande quantidade dos nervos cranianos.
Os ventrículos cerebrais desenhados por
Leonardo Da Vinci
 
Os ventrículos cerebrais, como aparecem no
livro de Hieronymus Brunschwig, publicado em
1525. Notar que as sensações visuais, gustativas,
lfatórias e auditivas são levadas ao ventrículo anterior.






Só no século XVI, Andreas Vesalius (1514-1564), autor do monumental tratado de anatomia “De Humani Corporis Fabrica”, rompe com a teoria da localização ventricular dos processos mentais argumentando que outros mamíferos (como o asno) têm a mesma organização anatômica e não possuem as mesmas capacidades intelectuais. Contudo, ele continuou a acreditar que os ventrículos cerebrais eram um local de armazenamento dos espíritos animais, de onde eles partiam para, através dos nervos, atingir os órgão sensoriais ou de movimento.
 
 



Andreas Vesalius


Capa de Humanis Corporis Fabrica
 
Ilustração do cérebro por Vesalius
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este espaço destina-se ao melhoramento do site e respostas as suas dúvidas, portanto aproveite: sugira, pergunte, critique.

Equipe COG